Caldeirão Furado

Caldeirão Furado

Em uma rua meramente secundária da grande Londres, entre uma grande livraria e uma loja de discos mostra-se insignificante um bar de fachada mal-cuidada e suja, "O Caldeirão Furado", diz na placa de madeira que range com o balançar pela mínima brisa que nela se choca. As letras na placa um dia já deveriam ser douradas, porque agora de tão encardidas até ficava difícil ler. Logo fora já pode-se notar dois andares, pois não se limita a um bar, sendo também uma hospedaria. É impossível não notar que nenhum trouxa nem olha para a direção dele, parece insignificante ou sujo demais para que percam seu tempo vendo-o, os mais sábios sabem bem que o bar é encantado para repelir trouxas. Logo na entrada o cheiro de mofo e sujeira invade as narinas dos bons clientes, e o balcão principal com a madeira escura e danificada, antiga como as jóias da coroa. Vários bancos estão enfileirados tortos defronte do balcão para quem quiser bebericar algo e sair correndo ou simplesmente gastar um latim com os balconistas, sempre com centenas de histórias e assuntos para contar. A esquerda há um espaço mais aberto com mesas grandes de oito lugares, não há essa história de sentar sozinho, todos sentam próximos por aqui e acabam fazendo amigos ou arranjando briga, o que acharem mais divertido para a ocasião. Na extrema esquerda duas aberturas para as cozinhas, em volta dela vários quadros pequenos com fotos animadas de visitantes ilustres, a última deveria datar para lá do século XIX. No fundo deste recinto um mínimo palco com um piano desafinado e antiquíssimo e tábuas enceradas. Toda sua decoração interior lembra uma taverna medieval, seu lustre enorme e redondo, como uma cintura metálica de barril, comporta mais de trinta velas.